segunda-feira, 16 de março de 2009

DIANTE DO FIM


Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena pagar em dia o IPTU, se vale a pena ser patriota, se vale a pena assistir a novela das oito, se vale a pena abaixar o som para não incomodar o vizinho.

Diante do fim a gente fica pensando se vale a pena ver o noticiário em que nos dizem que a crise continua e que os políticos vão ser obrigados a nos arrochar um pouco mais para manter a soberania nacional.

Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena discutir com o homem da fruteira para pechinchar o preço, se vale a pena reclamar do colega de serviço que nos derrubou para ganhar um milésimo a mais em seu salário e que não foi suficiente para trazer para a sua mulher e filho um momento de dignidade e de orgulho, muito antes pelo contrário.

Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena se inscrever para o Big Brother para, com muita sorte acabar sendo repórter por um dia em uma feira-livre de jacarepaguá ou jogar na Mega-Sena e ser agraciado com um prêmio fantástico que é igual ao salário mensal do Ratinho ou do Silvio Santos.

Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena se ser bom por toda a nossa vida, por todo o segundo em que respiramos e para todas as pessoas que encontramos em nosso caminho e no final a nossa nota ser quase igual a do cara que “ferrou” com todo mundo o tempo todo e que nos últimos minutos resolveu ser bom ficando com uma média quase idêntica a nossa.

Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena acreditar em um Deus que teve apenas um filho único, quem sabe pela crise que faz com que tenhamos menos filhos para sustentar.

Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena ser bom em um mundo que só sabe reverenciar quem venceu, não importa como.
Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena estar vivo em um mundo em que pais estupram filhos e mães jogam seus fetos no lixo.

Diante do fim a gente começa a pensar se vale a pena achar que vale a pena tentar, pensar se realmente é possível mudar, acreditar que é possível tocar.

Diante do fim a gente começa a pensar se valeu a pena um dia ter sentido, de um dia ter sorrido, de um dia ter chorado.

Diante do fim a gente começa a pensar se valeu a pena um dia ter vivido.
(Para a minha esposa Marilene, a quem eu credito tudo o que valeu a pena em minha vida)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

NÃO PRECISAMOS DO MISTER M


O integrante do maior partido político do país fez esses dias uma declaração bombástica dizendo que o seu partido e praticamente todos os integrantes dele são corruptos e que só querem cargos para fazer maracutaias. Foi o comentário da mídia e das pessoas até o pôr do sol do dia do pronunciamento. Depois morreu o assunto.

Numa tentativa quase bocejante e com muita má vontade de tentar reverter ou diminuir a declaração do colega, um grande líder do mesmo partido complementa dizendo que eles não são menos corruptos que integrantes de outros grandes partidos. Ele disse, em outras palavras: “não somos os únicos que roubam”.

Grandes revelações, grandes mentiras desvendadas, grandes verdades vindo à tona só interessam se forem sobre as preferências sexuais do participante sem cérebro do Big Brother ou da milésima operação plástica da dançarina do programa infantil.

Ninguém está disposto a ouvir verdades um pouco antes da novela das oito, depois de um dia exaustivo ou principalmente uma semana antes do carnaval. Muito menos estão dispostos a ouvir verdades aqueles que realmente têm por obrigação apurar as coisas e encarar a briga quando essas verdades são expostas.

O que nós esperamos deste país? Acredito que muitos esperam (depois de todos os desejos individuais saciados, é lógico!) a chegada de homens de boa vontade que tenham coragem de denunciar, de tocar na ferida, de mostrar os podres do país e que estivessem dispostos a dar início a um processo de moralização nacional.

De tempos em tempos aparecem homens como esses que acabam causando, ao invés de admiração por sua coragem e iniciativa, repulsa e estranheza em todos nós. São como o Mister M que mostra o segredo do truque que nos aplicam e acaba sendo execrado pelos seus pares, pelos mágicos, pelos enganadores, pelos ilusionistas que querem continuar enganando e mamando por séculos sem ter que criar novos truques e até pelo público que prefere a ilusão do que a verdade.

Nós precisamos do show. Queremos a mágica. Sonhamos com o espetáculo. Não queremos Misters Ms nos revelando os truques e nos deixando órfãos das soluções mágicas para os nossos problemas. Nós precisamos das presenças divinas dos escolhidos por Deus e apenas referendados por nós nas urnas, dos quatro poderes celestiais e da capacidade de fazer sumir diante dos nossos olhos pontes, rodovias e hospitais e de serrar um trabalhador ao meio e logo depois fazê-lo surgir não mais inteiro e sim partido para que produza em dobro, processo que somos submetidos desde o nascimento dos nossos ancestrais.

Vamos deixar para lá esse assunto porque já está começando a novela e logo depois vem o futebol.
(Sérgio Lisboa)








segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O VALDIR DO IAPI



O Valdir sempre foi um cara muito feio. Muito feio não é a definição adequada. A comparação mais perfeita para descrevê-lo era um cara com o corpo do corcunda de Notre Dame e a cara do Chucky, “O Brinquedo Assassino”. Ele não era o corcunda de Notre Dame completo com corpo e a cara porque a cara do corcunda de Notre Dame até que era bonitinha. Além do mais ele tinha uns olhos claros iguais aos do Chucky. Ele era muito feio. Ele já era feio quando estava arrumado para uma festa, imaginem como ele era no dia-a-dia despreocupado com a aparência.
Aliás, ele arrumado para uma festa era uma...uma..festa. Os sapatos eram sempre o mesmo par, três números menores do que o pé dele, sapato que achara um dia em uma esquina, junto a um despacho com galos pretos, velas, cachaça e umas moedas.
Ele se apaixonou tanto pelo sapato que naquele mesmo dia usou as moedas do despacho para pagar um engraxate e comemorou o seu achado bebendo uma garrafa de cachaça com o mesmo engraxate. As velas do despacho ele guardou para encerar o sapato quando tivesse que usá-lo.
A ponta do sapato, por ser bem apertado, ficava dobrada para cima, o que pelo menos facilitava para o Valdir quando ele dançava sozinho no salão girando nas pontas do sapato numa dança frenética, mais louca que Elvis Presley ou Michael Jackson, não importando o ritmo da música. Podia ser um samba ou uma valsa que o Valdir dançava sempre no ritmo alucinado do rock and roll.
A camisa que ele usava para ir à festa era a mesma camiseta surrada de futebol que ele usara a tarde inteira jogando pelada no campo. A calça também. Sim, a calça. O Valdir nunca usava calções para jogar futebol. Jogava sempre de calça.
Achar o Valdir no baile não era muito difícil, bastava procurar pelo corcunda de Notre Dame, com a cara do Chuky, com a ponta dos sapatos virada para cima e vestido de centro-avante.
O Valdir era um grande personagem que jogava futebol no campo do Alim Pedro, no IAPI. Vocês devem estar pensando que ele usava os mesmos sapatos para jogar futebol? Não, nada disso! O Valdir jogava futebol de pés descalços. Nas pontas de cada dedão tinha umas unhas pontudas que mais pareciam uns sabres. Eu sempre quis saber como aquelas unhas duras e compridas conseguiam se dobrar para acompanhar o formato do sapato. Cada vez que o Valdir ia dar um chute na bola todos temiam, não pela potência do chute, mas sim com medo dele acabar com o jogo, furando a bola com aquelas unhas. Felizmente isso nunca aconteceu, até mesmo porque o Valdir dava uns efeitos na bola nunca vistos, batendo sempre com o lado do pé. Ele não era bobo. Não iria querer acabar com o jogo.
Uma das coisas que mais me chamava atenção na personalidade do Valdir era a sua capacidade de se divertir jogando futebol. Todo lance que não dava certo para o adversário ou para o seu próprio time arrancava gargalhadas dele. Até mesmo quando dava um drible desconcertante no adversário, ao invés de continuar a jogada e marcar o gol, ele se jogava no chão com as mãos na barriga e rolava de rir do drible que realizara. Era isso que importava: rir e se divertir.
Podia ter o corpo do corcunda, a cara do Chucky, os sapatos tortos, as unhas compridas, mas ele ria e se divertia com tanto prazer que causaria inveja a qualquer galã de cinema com suas belezas, manicures e roupas maravilhosas. Fazer as coisas com alegria e por diversão é mais importante do que fazer por resultados. Mesmo porque o resultado final que todos nós queremos depois de trabalhar, depois de conquistar, depois de ganhar dinheiro é ter alegria e diversão.
O Valdir apenas atalhava o caminho e convivia o tempo todo com a alegria.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009



O MAGRÃO DO IAPI
(Sérgio Lisboa)
Eu nasci e cresci em Porto Alegre. Sempre no Bairro IAPI. Um bairro construído para trabalhadores, no caso, os industriários. Foi o primeiro conjunto habitacional do Brasil. Até hoje - ele que foi tombado - mantém praticamente as mesmas construções da década de quarenta. Foi o bairro onde cresceu também a grande Elis Regina.

O IAPI era um bairro de roqueiros, grandes cabeças criativas e, lógico um bairro onde a maconha tinha um lugar de honra. Tudo numa boa e pela paz e o amor. Enquanto isso os Estados unidos invadiam o Vietnan e os militares tomavam o poder.
A grande maioria dos seus moradores passou a ser de funcionários públicos. Um bairro ótimo de se morar. A metade da população com a tranqüilidade de um funcionário público e a outra metade completamente zen, curtindo os efeitos da canabis.

Meu pai e minha mãe eram funcionários públicos federais. Herdei deles o gene da estabilidade e da calma ao iniciar uma tarefa. Herdei deles, principalmente o gene de nunca pegar o que não é meu. Considerando que, se fosse também um funcionário público - o que acabei me tornando - o emprego estaria sempre garantido. Eles me ensinaram que com um emprego estável me restava apenas garantir um bom sono e uma boa consciência através da honestidade.

O IAPI tinha muitas figuras. Uma delas era o Magrão. Descrever o Magrão fica muito mais fácil se eu disser para vocês que ele era a cópia fiel do Azambuja, aquele personagem do Chico Anísio. Aquele personagem muito malandro que está sempre tramando uma jogada. Não é o Justo Veríssimo, o político, embora sejam muito semelhantes.
O Magrão era o Rei do 171. Não tinha para ninguém.
Ele tinha uma jogada que sempre funcionava e que tenho que admitir era ótima. Obviamente, ele com seus trambiques, tinha atrás de si muitos credores e gente querendo encontrá-lo para reaver seus “investimentos”.
Quando o inevitável acontecia e ele cruzava com algum credor numa esquina, principalmente em uma esquina do centro da cidade, lotada de pessoas, quando, para qualquer mortal era o momento mais temido de suas vidas, ele pulava na frente e já gritava: “Qual é a sua? Estive lhe procurando a semana inteira para pagar o que devo e nunca encontro!! Assim você atrapalha a minha vida!”
O credor espantado com aquela atitude e envergonhado com aquela situação vexatória diante de milhares de testemunhas, baixa a cabeça, baixa o tom de voz e pedindo desculpas diz que estará esperando o pagamento dele da próxima vez.

O Magrão era uma figura. Ás vezes eu penso que ele fez escola, principalmente com o Governo quando vêm para cima de nós, pobres contribuintes fisgados e confiscados, alegando que a culpa é toda nossa por qualquer crise que passamos e que viermos a passar, quando enriquece cada vez mais a si e a sua prole por gerações e, ainda assim consegue que nós baixemos a cabeça, o tom de voz e aceitemos uma redução de salário para ajudar a enfrentar a crise (ele não repartiu a lagosta quando o mercado estava em alta).

Eu tenho muitas histórias mais do Bairro IAPI que pretendo contar e acho que aprendi muito com todas aquelas figuras e, um pouco graças a elas, passei a entender melhor o que se passa diante de todos nós nos tempos atuais quando relembro daqueles personagens.
Vai ver que foi o aquele ar enfumaçado que me fez minha cabeça raciocinar ao contrário.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CABEÇA NAS NUVENS



(Sérgio Lisboa)
A Rainha Maria Antonieta já tinha ficado eternamente famosa com a frase que demonstrava uma total falta de sintonia com as mazelas de seu povo quando proferiu, ao receber a notícia de que o povo clamava por pão: ”Se não tem pão que comam bolo!”.

Qualquer mortal pode com um pouco de boa vontade fazer alguns cálculos e algumas pesquisas banais pela internet, mais fáceis do que acessar sites pornôs.
Digamos que a governadora e cinco secretários viajassem uma vez por mês para o exterior. Durante o seu mandato seriam quarenta e oito viagens para seis pessoas ao custo unitário de três mil reais (Porto Alegre - Londres custa três mil reais ida e volta), sendo dezoito mil reais multiplicado por quarenta e oito, totalizando hum milhão e quatrocentos mil reais por todo o mandato. Se comprar o seu avião por vinte e oito milhões de dólares, somando-se a manutenção, tripulação, gastos com mordomias, etc. gastará de cara o dinheiro de quarenta mandatos e mais um mandato por ano só de despesas com o avião.

Agora eu entendo porque os técnicos da Fazenda Estadual sempre que perguntados sobre o que acham desta compra, acabam se esquivando e dizendo que estão de saída. Aliás, o ex-Secretário da Fazenda de Yeda deixou esta bomba para o outro e recebeu convite para trabalhar no Banco Mundial, depois que fechou um empréstimo do Estado com este Banco com valores corrigidos em dólar.

Você pode dizer que a Governadora precisa de um corpo de seguranças. Precisa de um bom carro oficial. Precisa de um bom lugar para receber o povo e as autoridades. Precisa comer bem. Ter boas informações. Agora, defender que a Governadora precisa de um avião novo só seria aceitável se estivéssemos na Colômbia, Venezuela, Bolívia, Iraque, Rússia, etc., e assim mesmo se o governo tivesse sido tomado por narcotraficantes ou integrantes da máfia. Estando o funcionalismo ganhando um bom salário, a educação perfeita, a saúde sem problemas, a segurança sob controle e seus policiais ganhando um salário digno, não haveria motivo nenhum para sermos contra a aquisição de um aviãozinho para a governadora.

A crise mundial, os eternos problemas financeiros do Rio Grande do Sul somados aos cortes orçamentários drásticos feitos pela Governadora criam o mais desfavorável cenário possível para a aquisição de um equipamento tão caro quanto supérfluo.

A Governadora alega que foi repreendida pelo Presidente Lula por não ter um avião e que o Rio Grande é um dos únicos estados que não tem avião novo. Primeiro: o Presidente Lula sempre achará um absurdo quem não tiver uma forma de andar nas nuvens como ele. Segundo: o Rio Grande perdeu espaço político e econômico ao longo da história, mas sempre teve ao seu favor o fato de ser diferente pelas atitudes e posturas dignas dos princípios que regem a administração pública.

Estão chamando este avião da Governadora de “Queen Air’ (algo como o avião da Rainha). Eu acho uma verdadeira maldade chamar este avião da Governadora de “Queen Air”, pois é uma maldade com a Rainha da Inglaterra, até mesmo porque eu li que a dona do trono real inglês está com os pés no chão e, apavorada com a crise mundial, está procurando diminuir qualquer gasto que seja supérfluo.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O PRESIDENTE NA GELADEIRA




(Sérgio Lisboa)
O Presidente Lula criou um programa federal para subsidiar a venda de geladeiras a famílias de baixa renda. O objetivo é fazer com que as residências tenham eletrodomésticos antigos trocados por novos, o que resultaria em maior eficiência energética.

Acredito que a preocupação seja com o gasto de energia que é maior nesses aparelhos, além dos gases utilizados neles que prejudicam a camada de ozônio.

O Presidente nunca escondeu que era fã dos Mamonas Assassinas, principalmente naqueles versos “...a minha felicidade é um crediário nas Casas ...”

Será que é uma parceria com uma grande rede de lojas ou é concorrência desleal, mesmo?

Depois de criar o crédito “facilitado” para os aposentados, deixando-os sem condições de comprar um pirulito para os netos (literalmente foi mais fácil do que tirar o doce de uma criança), o ataque agora é no produto mais caro que o pobre pode adquirir e, consequentemente, se endividar.

Ele só não informou o que os pobres colocarão dentro das mesmas, uma vez que a maioria do povo brasileiro usa a geladeira como armário e para secar roupas na parte de trás.

Eu queria sugerir ao governo, que assim que for possível, crie um programa para subsidiar a compra de pau de macarrão, para moralizar os casais adúlteros e tentar conter a onda de separações matrimoniais que vem crescendo ultimamente.

Outra sugestão diz respeito a um programa para aquisição de cortinas plásticas de banheiro, para conter a alta absurda do preço do alumínio, utilizado na confecção de boxes, podendo esse programa ser em parceria com o Ministério da Pesca, pois as legítimas cortinas plásticas de banheiro tem desenhos de peixinhos.

Ainda com relação ao bolsa-geladeira, fontes do governo confirmaram que já está havendo uma pressão muito forte dos parlamentares, para que, em regime de urgência, seja também aprovado o bolsa-pingüim de geladeira, que sem eles estaria completamente descaracterizado todo o programa, criando uma verdadeira comoção popular e, segundo alguns ferindo até mesmo algumas cláusulas pétreas da Constituição Federal.

Apesar disso algumas entidades representativas não são favoráveis ao bolsa-geladeira pelo simples fato de que a oito anos já estão numa verdadeira fria.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A ALMA DA XUXA



(Sérgio Lisboa)
A apresentadora de televisão, Xuxa está movendo um processo contra um jornal semanal de uma igreja evangélica, que traz uma reportagem sobre um suposto pacto que ela teria feito com o diabo. O jornal diz que Xuxa teria vendido sua alma pela incrível quantia de cem milhões de dólares. Agora, a apresentadora pede uma indenização de três milhões de reais por danos morais. Ela parece disposta a infernizar a vida desta igreja.

O diabo (Ops!), digo o mais intrigante é o fato do valor ter sido de cem milhões de dólares que equivalem a duzentos e vinte milhões de reais e o pedido de indenização por dano moral tenha sido de somente três milhões de reais. O jornal teve uma tiragem de três milhões de unidades, o que significa que Xuxa está pedindo um real por cada pessoa que leu o impresso. Podemos deduzir com isso que cada um de nós que disser algo para a Xuxa que dê margem para uma reparação moral deve ter pelo menos um real em casa para a indenização.

Alguns especialistas advertem que está tendo uma confusão nas definições e que o que vale mesmo é o espírito e que a alma está em baixa no mercado. Existe inclusive uma tabela que determina os valores das formas do indivíduo como o corpo, a alma, o espírito, a mente e a moral. Tais definições variam de indivíduo para indivíduo de um lugar para outro. Tem uns que não tem moral nenhuma e vendem o corpo a qualquer preço. Outros aparecem nas repartições públicas só em espírito. Outros estão com suas mentes dominadas, com o corpo detonado e já venderam a alma e o espírito, quando então resolvem cantar Funk.

Talvez seja a grande salvação da apresentadora este pedido de indenização, uma vez que se a reparação moral custa só três milhões de reais a sua alma deve valer uns míseros trinta milhões de reais. Resta saber se o Diabo pagou superfaturado ou então algo está mal explicado.
A diabólica coerência desta história é o fato do Diabo pagar a alma em dólares, já dando uma pista de seu país de origem.

A Polícia Federal deveria abrir o sigilo bancário de Xuxa e rastrear para descobrir se esse dinheiro entrou mesmo em sua conta e qual conexão o Diabo teria utilizado para burlar o sistema financeiro internacional, apesar de que, mesmo que encontrem o tal depósito, não será nada fácil enquadrar a moça, visto que o dinheiro vindo do Diabo com certeza é um dinheiro muito quente.

O Banco Central deveria se pronunciar quanto às grandes movimentações financeiras oficiais, mesmo que não possa afirmar com certeza que algum dos depositantes seja o Diabo em pessoa, embora os que movimentam essas quantias tão elevadas certamente estão longe de serem anjos.
Dificuldades também enfrentarão os Oficiais de Justiça para a intimação do envolvido, no caso o Diabo, uma vez que ele não possui endereço fixo, pelo menos não sabido, e restando a eles apenas aguardar alguma possessão demoníaca de fato confirmada para que ele seja notificado da audiência. O mais próximo que podem chegar é de alguém que encontrarem por aí, possuído, mas a intimação poderá pegar fogo assim que a entidade a tocar.

Quanto a Xuxa, se for confirmada sua vitória judicial, deverá comemorar bebendo muitos capetas.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

BRIGAR COM O ASTRO DA ESCOLA



(Sérgio Lisboa)

Quantas vezes em nossas vidas já fomos confrontados e acabamos nos desentendendo com pessoas idolatradas em nosso meio - seja na escola, no trabalho ou no convívio social, por serem ricas, bonitas, atraentes, maniqueístas, empáticas, bajuladoras, corrompedoras, concentradoras, ditadoras, falsas sofredoras, dissimuladas, etc. Estas coisas acontecem com quem ousa discutir aquela “liderança” ou até mesmo pelo simples fato de não reverenciar aquele ser celestial o tempo todo.
Nestas horas parece que o mundo cai sobre as nossas cabeças. Todos olham com aquele olhar de quem se penaliza com a nossa condição de peça defeituosa na engrenagem do sistema perfeito ao mesmo tempo em que suspiram e passam a mudar este olhar para o de quem quer dizer que seria melhor para todos que você sumisse do mapa. Você procura olhando para todos os outros uma solidariedade para a sua postura que julga corajosa, heróica e necessária para retirar a catarata que não os deixa ver o quanto estão sendo manipulados, mas todos baixam ou desviam o olhar evitando conversar qualquer coisa que não seja a idéia de demovê-lo de sua posição.

A guerra na Faixa de Gaza é o exemplo mais clássico e em proporções gigantescas que evidenciam estas posturas. De um lado os ricos, os limpinhos, os dos retratos nas revistas, os mocinhos que vivem perseguidos, os que querem e sabem conversar civilizadamente e do outro lado os pobres, os sujos, os sem-rostos, os traiçoeiros e os que não tornam possível um diálogo amigável.
Esta guerra traz consigo uma disputa milenar e ainda envolve a religião com a marca do fanatismo, o que praticamente afasta todas as pessoas que de alguma forma poderiam intervir, pois é pouco compreensível e aceitável para quem não respira aquele ar e não vive aquela história.

Todos os comentaristas especializados, subjugados ou não, lamentam a inércia e a conivência estarrecedora da ONU, embora não seja inércia ou simples conivência e sim uma posição bem clara que é a de consentir calando. A ONU tem uma opinião bem sedimentada e reiterada através dos anos que é a de ser favorável ao astro da escola em desfavor do pobre menino que está estudando com bolsa-auxílio ou entrou na universidade através das cotas.

Não estou dizendo que o bom menino no episódio de Gaza não tem razão e que o menino sujo é que está certo. Apenas quero dizer que o bom menino sempre terá a razão e só estamos esperando que o mau menino crie juízo e deixe a engrenagem do sistema perfeito funcionar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

SOMOS LIXO?






(Sérgio Lisboa)
Uma das questões mais básicas que sempre voltam aos debates mais polêmicos é sobre qual o exato momento em que começa a vida. Para o trabalhador brasileiro parece que ela não vai começar nunca, pelo menos dignamente. Nestes casos a posição oficial fica por conta da Biologia embora a Filosofia fique em volta, com um cálice de vinho, dando pitacos o tempo todo. E a Igreja com seus cálices e anéis, também. A Biologia, entre suas várias correntes define como mais aceita a hipótese de que a vida se inicia com a fecundação. Pronto. A fecundação. Aquele momento mágico que acontece alguns dias após o homem cair extasiado e abatido sobre o corpo suado e (nem sempre) satisfeito da mulher. A Igreja também concorda que é a partir daí que a vida começa bem como a existência da alma.

Outros dizem que a vida começa quando o ser humano reconhece a diferença entre si e os demais, ou seja, ao longo dos primeiros meses após o nascimento. Daí já é tarde e já estão com uma faca em nossas costas.

O Catolicismo desde o século IV condena o aborto em qualquer estágio e em qualquer circunstância, permanecendo até hoje como opinião e posição oficial da Igreja Católica. A Igreja considera que a alma é infundida no novo ser no momento da fecundação, proibindo o aborto em qualquer fase já que a alma passa a pertencer ao novo ser no momento preciso do encontro do óvulo com o espermatozóide. A punição para quem pratica o aborto é a mais pesada em vigor no catolicismo que é a excomunhão.

Por outro lado, numa decisão bem menos celestial, o Conselho Federal de Medicina através de uma Resolução Normativa no ano de 2000 determina que os fetos natimortos ou mesmo bebês que nasceram com vida e morrem no hospital, somente precisam atestado de óbito os que nascerem com vinte semanas, ou com quinhentos gramas ou com vinte e cinco centímetros de comprimento. Os demais são registrados junto às peças de patologia cirúrgicas, sem atestado.
São descartados junto às vesículas cancerosas, às gorduras lipo-aspiradas, às pernas amputadas e às gazes ensanguentadas.
Passam a ser lixo hospitalar.

Eu gostaria de saber onde fica a alma dos bebês que não se enquadram naqueles índices de tempo, peso e medida? As almas os abandonam, pois os mesmos não se ajustam a Resolução médica? E a Igreja, o que acha desta Resolução?

A notícia que chamou muito a atenção neste início de ano, depois dos banhos de mar do Presidente foi sobre a menina encontrada com vida pela faxineira do hospital em São Paulo, dada como morta e esperando para ser recolhida como lixo hospitalar, seguindo a Resolução do Conselho. A discussão agora, além do erro na constatação da morte, é sobre o fato de que houve erro também na classificação da menina como lixo, uma vez que ela tinha setecentos e cinquenta gramas, merecendo ser tratada como ser humano.

A faxineira que achou a menina e providenciou socorro não foi atendida no primeiro momento, pois os médicos não acreditaram nela. Faz pensar se outras faxineiras bem menos determinadas, em casos semelhantes, não desistiram na primeira chamada.

A menina foi registrada com o nome de Giovana Vida. Uma homenagem a vida e um alerta vivo sobre como ela é tratada.
Eu penso que será preciso explicar para a Giovana, desde logo, o porquê que para ser faxineira não é preciso diploma.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

VALORES ONLINE



(Sérgio Lisboa)
A internet é um instrumento ou ferramenta como qualquer outra, tanto quanto um bisturi, que salva vidas, também pode ser usado como arma nas mãos do Jack Estripador, ou uma foice que prepara o terreno para produzir alimentos também se transforma em uma arma mortal nas mãos de sem-terras.
A rede de computadores tem sido muito valiosa para a informação instantânea, novas amizades, novos negócios, estudos, lazer, etc., como também para uma série de atividades não tão positivas. Assim como é possível, sem sair de casa, visitar Museus pelo mundo (que programão!), comprar meias de lã baratas e encalhadas numa loja de varejos da Jamaica, descobrir um filho que você não sabia que tinha no Vietnã (fruto daquela única transa com a enfermeira americana nas férias no Rio nos anos sessenta); você também pode ter acesso a pornografia infantil, adquirir diplomas em qualquer área com fotos da formatura e com parentes chorando incluídos no pacote (o Photosharp é gratuito), comprar uma ogiva nuclear de quarenta megatons (suficiente, pelo menos, para todos no teu bairro passarem a te respeitar), além do mapa onde está escondido o Bin Laden, pela metade do preço da recompensa por ele.

A educação dos nossos filhos, como todos os segmentos de nossas vidas, foi alterada fortemente pelo advento da Web, tendo que levar em conta a rapidez das pesquisas, bem como o ritmo frenético das informações recebidas por eles, afetando diretamente a forma de comunicação e ensinamento transmitidos, tanto pelos pais quanto pelos professores.
Uma coisa que felizmente parece não mudar são os valores que podemos repassar aos nossos filhos (fora os créditos no celular, banco e cartão) como honestidade, amor, justiça, dedicação, generosidade (na manha!), etc. Talvez os maiores obstáculos que podemos encontrar para que esses valores fluam normalmente, ou melhor, que pelo menos sobrevivam (sem falar no Funk), são os jogos online que a Internet nos apresenta. Além de jogos em que você tem que matar o maior número de coleguinhas de classe no menor tempo, tem os de trânsito em que se atropela todo mundo, mas mulheres grávidas e deficientes valem mais pontos.

Um desses jogos que coloca em xeque toda a dedicação familiar, escolar, social, etc. se chama “ The Pimps”. A propaganda anuncia como um game online diferente de tudo que você já viu! Neste jogo você é um cafetão super barra-pesada e seu objetivo é gerenciar as suas prostitutas, eliminar os outros cafetões e aliciar as prostitutas deles. Eventualmente você também pode ganhar muito dinheiro sendo assassino de aluguel ou traficante de drogas, mas sem nunca deixar de tomar conta das suas "meninas". Você não joga contra o computador, você joga contra outros cafetões tão barra-pesada quanto você. Clique e entre para o mundo do crime e da prostituição!
Você pode e deve falar de valores para o seu filho, apenas terá que, eventualmente, esperar ele terminar joguinhos como este, pois pode acontecer bem na hora da conversa de só faltar um cafetão concorrente morrer, para ele conquistar a cidade inteira.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O OTÁRIO PERFEITO



(Sérgio Lisboa)
Steve Jobs, fundador da Apple, Next e Pixar, ícones empresariais do mundo capitalista fez um discurso em 2005 na formatura da Universidade de Stanford, uma das mais conceituadas e caras do mundo, berço dos maiores líderes empresariais do planeta, vídeo este que, misteriosamente, voltou com força neste ano na internet.

Ele, com cinquenta e poucos anos poderia transmitir cinquenta e poucas lições que aprendeu em sua vida. Mas como uma das figuras mais ricas do planeta, além de ser uma das figuras mais inteligentes e criativas deste mesmo planeta, disse que não tinha lições para passar, apenas três histórias para contar. Antes disso, fez questão de frisar que estava como convidado especial na formatura mais cobiçada do mundo, mas que nunca havia se formado na vida e aquele momento era o mais próximo que já tinha chegado de uma formatura. Um dos homens mais ricos do mundo e um dos mais brilhantes (Aqui no Brasil um palestrante motivacional que não tiver quinze faculdades perde terreno em suas contratações).

A primeira história é sobre ligar os pontos, onde defende que você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa - sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca o decepcionou e tem feito toda a diferença para ele.

A segunda história é sobre amor e perda, em que lembra que, às vezes, a vida bate com um tijolo em nossas cabeças e que não devemos perder a fé. A única coisa que permite seguir adiante é o amor pelo que se faz. Você tem que descobrir o que ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama.
Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.

A terceira história é sobre a morte, onde Steve pergunta: Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje? ”Se a resposta é “não” por muitos dias seguidos é preciso mudar alguma coisa.
Lembrar que estaremos mortos em breve é a ferramenta mais importante que teremos para ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é importante. Não há razão para não seguir o seu coração.
Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.
O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém.
Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas.
Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior.
E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.
“Continue com fome, continue bobo.”

Temos que continuar bobos para acreditar em nossos sonhos, não para repetirmos as expectativas das outras pessoas, nem vir a este mundo como otários perfeitos, ricos ou pobres, sem idéias próprias, apenas sendo fantoches de uma sociedade que já nem sabe mais quem está manipulando o boneco.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

CARRO FURTADO



(Sérgio Lisboa)
Eu admiro as pessoas que são despreocupadas com seus bens materiais. Parece incrível, mas ainda tem gente assim. O caso do automóvel, por exemplo: a maioria das pessoas deixa seus carros em qualquer vaga, a qualquer hora, confiando apenas nos alarmes dos carros e, muitas vezes eles não tem alarme, tranca ou seguro.
O meu carro tem tudo isto. Tem alarme, corta- corrente, tranca de direção, chave com decodificador e seguro contra roubo. Falta só GPS. Mesmo assim não o deixo nunca, sob hipótese alguma estacionado na rua. O meu, ou fica na garagem de casa ou em um estacionamento pago.

Um ladrão em uma entrevista (como têm ladrões dando entrevista!) disse que o carro mais difícil (não o impossível!) de ser furtado é o que é guardado em uma garagem paga. Eu nunca esqueci isso. Já aconteceu de eu ir a uma cafeteria tomar apenas um cafezinho de um real e gastar cinco reais num estacionamento pago.
O problema são os horários de atendimento desses estacionamentos. Aqui na minha cidade a maioria dos estacionamentos fecha às dezenove horas. Quem trabalha o dia todo e quer ir a uma academia, a uma loja, ao cabeleireiro ou qualquer local que não tenha estacionamento próprio e tem receio de deixar o carro na rua, no escuro, ou vai a pé, de táxi ou não vai. Um dia perguntei para um dos atendentes desses estacionamentos que fecham no início da noite o motivo deste procedimento e a resposta foi no mínimo hilária: “Nós temos medo de assaltos”.

Certa vez eu fui a um jantar em um edifício de amigos que não tinha garagem e os veículos tinham que ficar do lado de fora, num dos bairros de maior incidência de furto e roubo de veículos. O edifício ficava a três quarteirões da minha casa e era muito perigoso voltar a pé, tarde da noite. O resultado final foi que eu chamei um táxi para me levar e buscar por três quadras.
Sem falar que em cada centímetro quadrado da via pública tem um flanelinha ou guardador de carros. O flanelinha é classificado em três tipos distintos: o que lhe cobra para não furtar ou arranhar; o que lhe cobra mas não impede que furtem e o que lhe cobra e ainda assim lhe furta o carro.

Muita gente me pergunta por que me preocupo tanto se o meu carro é segurado contra roubo?
Primeiro: O trauma de ser lesado.
Segundo: O desconforto e a impotência de ter que voltar para casa com a mulher, os filhos e nove pacotes de compras, a pé.
Terceiro: O fato de ter que ir a uma delegacia, tarde da noite e ser atendido com todo aquele carinho, sendo olhado com cara de desprezo por ser um descuidado, mais um otário, que está ali enchendo o saco com mais uma ocorrência.
Quarto: A hipótese de estarem usando o carro justamente naquele momento em um assalto, em um atropelamento ou passando por vários controladores de velocidade colecionando muitas multas.
Quinto: Pode acontecer de ser recuperado mais torto e amassado do que um chapéu velho e a seguradora dar uma ajeitadinha e devolver assim.
Sexto: O dia em que levarem o carro pode ser justamente o dia em que estava no porta-malas uma série de coisas importantes e insubstituíveis ou até mesmo aquele vídeo seu e da sua mulher, gravado naquele motel com as cenas mais quentes que vocês já fizeram e estar sendo assistido por sabe-se lá qual maníaco psicótico com fixação em masturbação ou pior, estar sendo reproduzido pela internet.
Quanto pepino você pode ter pela frente porque quis poupar três reais de um estacionamento.

Eu preciso confessar para vocês que tem apenas um momento em que abro uma exceção e estaciono na rua: é quando vou visitar a minha mãe. Afinal de contas mãe é mãe! Ali sempre foi um lugar mágico, imaculado, imune a qualquer ataque das forças do mal. Ali eu não tenho medo de ter meu carro furtado. O pior é que ali foi o único lugar em que levaram o meu carro. Dá um desconto para mim, por favor! Isso aconteceu apenas duas vezes.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

VOLTAR DESCALÇO



(Sérgio Lisboa)
Teve um Grenal na década de setenta em que o Grêmio venceu com um gol do ponteiro esquerdo Éder. O Éder para quem não lembra ou não conheceu era o cara mais irreverente, malandro, mulherengo e para piorar ainda mais seu currículo, era um dos mais técnicos atacantes que este país já viu jogar.
Neste dia, num domingo de muito sol, no estádio do Inter, o Beira-Rio, Éder fez um golaço no segundo tempo e saiu para comemorar em direção às sociais do Internacional com a mão segurando o seu membro sob os calções e sacudindo freneticamente como a oferecê-lo para a torcida adversária. Aquele momento ficou marcado para sempre na minha memória, não o membro do Éder (qualé?!) mas aquela atitude dele de deboche em último grau sem nem sequer tomar um cartão amarelo pelos gestos obscenos que ele fez, muito diferente de como é hoje. Hoje se um jogador de futebol comemorar com um sorriso um gol marcado acaba expulso do jogo. Não é muito difícil de entender, uma vez que com jogos de resultados marcados é uma estupidez comemorar alguma coisa.

Vivíamos a ditadura e os militares que tanto nos amordaçaram sabiam que o estádio de futebol, tal qual o Coliseu da Roma antiga, era o lugar para o povo se esbaldar e os gladiadores ali dentro por pequenos instantes eram livres e não tinham essas regras bestas de não poderem sequer comemorar um gol ou uma mutilação sangrenta do adversário.

Voltando a comemoração do Éder, o que mais me chamou a atenção depois daquela comemoração foi a verdadeira chuva de objetos jogados sobre ele desde radinhos de pilhas, almofadas, bandeiras, pedras, guarda-chuvas (apesar do sol) e sapatos. Isso mesmo sapatos.
Eu sempre pensei, desde aquele dia, qual o grau de irritação de uma pessoa, não para ter coragem de jogar algo em alguém, mas em optar a voltar completamente descalço para casa em nome de uma desforra de tentar atingir alguém que lhe causou indignação ou lhe trouxe sofrimento.

Talvez o Presidente Bush naquele momento estivesse comemorando de uma forma tão obscena e tão debochada, como o Éder há trinta anos que mereceu, assim, levar umas sapatadas pela cara.
Antigamente se podia tanto ser debochado e obsceno quanto ser impulsivo e jogar os sapatos nos crápulas. Hoje só aos crápulas é permitido o deboche e a obscenidade.

O BOLO DA VERDADE ABATUMOU



(Sérgio Lisboa)
Sempre que alguém emite uma opinião, com raríssimas exceções, esta pessoa se manifesta em função do universo em que vive. Seus juízos passam pelas experiências que teve e principalmente por aquilo que ela representa. Escondidas sobre o manto da ética, as pessoas na realidade defendem um corporativismo muito forte.
Advogados lutam como leões para preservarem seu status bem como suas posições, assim como os médicos, policiais, professores, políticos, ladrões (já não tinha citado estes?) desempregados, sem-terras, religiosos, militantes políticos e até flanelinhas.
O suicida, que muitos pensavam que era um sujeito que não tinha amor pela própria vida, na realidade é o mais forte representante do corporativismo, levando consigo o seu corpo quando não vê mais saída na defesa dos seus interesses.

O mundo seria menos confuso se todos os especialistas, professores ou intelectuais informassem em que partido militam ou qual o seu trauma de infância em que assimilaram algum preconceito ou idéia fixa que teimam em não desgrudar de suas entranhas e sempre se manifestam ao primeiro sinal de adrenalina lançada na região sangüínea nos momentos acalorados de discussões ideológicas que tomam o seu corpo para emitir uma opinião ou uma verdade absoluta.

Quando as teorias tão arrogantemente defendidas caem e surgem as crises, especialmente as econômicas, a culpa é sempre de algo que não foi considerado, um detalhe esquecido, do Sobrenatural de Almeida ou do autor da teoria que agora, com a casa caída, todo mundo sempre soube que não daria certo. Ninguém questiona que talvez não exista uma receita de bolo para o que é certo.Talvez até exista uma receita de bolo para a verdade, mas assim mesmo será preciso muito cuidado com a procedência e o prazo de validade dos ingredientes, senão o bolo se torna abatumado, isto é, duro e pesado por pouca fermentação da massa (Viu? Sempre é necessário um crescimento da massa).

Muito se repete por aí que a verdade quase sempre é dura e pesada, mas nem por isso precisa ser abatumada.Aliás, o bolo da verdade abatumado é mais difícil de engolir do que o pãozinho quente da mentira.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

DESENGANAR É PRECISO



(Sérgio Lisboa)
Alguém já disse um dia que não existem nem o Brasil nem os estados e sim apenas os municípios. O País trabalha para todos os estados (um pouco mais para o Nordeste é verdade) e o Estado trabalha para todos os municípios ao mesmo tempo (às vezes parece que não trabalha para nenhum) e alguns municípios ficam esperando que o país e o Estado trabalhem para eles.

Os moradores de um município querem que seus prefeitos sejam os salvadores da pátria, o que por si só já causa um problema de jurisdição. Quando muito seriam os salvadores da cidade.
Fazendo uma análise bem simplista e simplória dos anseios de uma cidade, um prefeito que fosse um verdadeiro iluminado e tivesse recursos e parcerias, conseguiria no máximo asfaltar toda a cidade (causando problemas de vazão de água para os dias de chuva e corridas de carro em dias de sol), uma boa iluminação, esgoto encanado para a população, umas pracinhas, boas escolas e uma opção cultural.
Não teria como conseguir emprego para todos, saúde com a qualidade esperada e necessária, segurança adequada, pois isto tudo depende de verbas federais, estaduais e de um contexto político-social muito mais abrangente que passa inclusive pela ordem financeira mundial.

O que o povo mais clama é por saúde, educação, segurança e emprego, basicamente.
O caso da saúde, embora existam postos municipais, os mesmos só atendem ao básico e por serem pagos e contratados pelo município, sempre serão insuficientes para a demanda, pois os recursos humanos e materiais são proporcionais aos recursos das prefeituras.
A educação municipal, responsável pelo ensino fundamental é bastante razoável e falta pouco para ser muito boa.
A segurança é uma atribuição do estado e não é adequada nem no âmbito estadual quanto no federal e até mesmo a segurança privada acaba falhando.
O emprego não tem como ser gerado num passe de mágica, mesmo atraindo várias empresas, pois hoje em dia é necessária muita qualificação e na maioria das vezes essas vagas são preenchidas por pessoas de fora da cidade.
Não esqueçamos que se uma cidade tivesse a sorte de estar bem servida em saúde, educação e qualidade de vida acabaria invariavelmente invadida por pedintes, assaltantes e excluídos da educação e saúde de outros municípios, comprometendo as suas melhorias.

Pior do que tirar a esperança de alguém é enganá-lo com falsas esperanças.
O debate fica mais rico e a humanidade avança muito mais quando ela sabe de antemão o que não poderá ter. O tempo é muito precioso e é necessário que avancemos mais rapidamente para recuperar séculos de espera por salvadores e falsos profetas.
Como já foi dito há muito tempo: “posso não saber exatamente o que quero, mas sei muito bem o que eu não quero”.
Apenas conseguindo o mínimo possível é que estaremos aptos e habilitados para tentar o impossível.
Portanto, rumemos ao sonho impossível exigindo imediatamente o mínimo possível.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O PREÇO DA ALMA



(Sérgio Lisboa)
Esta calamidade que quase dizimou o estado de Santa Catarina me lembrou de uma estória que li sobre um padre de um município brasileiro que durante uma enchente foi procurado pelo prefeito da cidade para que, de forma emergencial acolhesse os flagelados no salão paroquial da igreja, talvez o único lugar mais adequado e espaçoso da cidade. O padre prontamente aceitou o pedido do prefeito, surpreendendo o mesmo com uma pequena condição: - Não tem problema nenhum, senhor prefeito. São apenas cem reais a diária.

A aproximação da igreja ou da religião com o dinheiro e as posses é tão antiga e estreita quanto o confronto do bem e do mal. Algumas delas trabalham tanto esta idéia que chegam a passar mais de setenta e cinco por cento do sermão alertando os fiéis sobre a necessidade ou desnecessidade, sobre a importância ou sobre a superficialidade do dinheiro e das posses. Falando bem ou falando mal, mas sempre falando nele.
O evangélico com seu dízimo, o católico com sua oferta, o espiritista com sua consulta, o pai-de-santo com seus trabalhos, os ateus com seus achaques, todos parecem (eu disse parecem), se direcionar para as posses materiais e menos para as recompensas espirituais.

Pensar em se drogar como uma forma de fuga também não é um bom negócio, pois o preço a pagar também é muito alto e à vista.
Esquecer tudo e ir se divertir em um bingo ou cassino é tão nefasto financeiramente quanto qualquer outra escolha.
Sair para consumir produtos no comércio como uma forma de distração nos deixa de joelhos perante os traficantes de créditos deste país.

O que fazer, então?
Quando não agüentarmos mais o confisco do nosso dinheiro pelo governo, nos afastarmos das religiões por elas também cobrarem de nós a sua parte, fugirmos de drogas, jogos, consumos e acabarmos finalmente sentados em um divã, completamente perdidos e necessitados de um auxílio médico, descobriremos que estamos diante do último predador de nossas economias.
O pior é quando o médico, após nos segurar durante seis meses, sempre cobrando a consulta, sentindo-se impotente frente aos mistérios da vida e da fragilidade da ciência, nos olha nos olhos e diz: - O teu problema é espiritual.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

SOBRE PEDÁGIOS E LOBOS



(Sérgio Lisboa)
Qual o segmento econômico que registrou a maior rentabilidade do país em 2007? Alguns dirão que foram os bancos, outros as telecomunicações. Alguns mais afoitos dirão que foi a indústria siderúrgica. Quem sabe não são as fábricas de bebidas e cigarros?Não! Nenhum deles!
O segmento econômico que registrou a maior rentabilidade do país em 2007 foi o de administração e concessão de rodovias. Isso mesmo! Os pedágios! A informação faz parte de um estudo elaborado pela agência classificadora de risco de crédito Austin Rating e foi divulgado na coluna Mercado Aberto pelo jornal Folha de São Paulo, no início deste ano.Com uma rentabilidade de 33,9%, as concessionárias de pedágio ficaram à frente de setores historicamente fortes da economia brasileira como o financeiro, o de telecomunicações, a siderurgia e o segmento de bebidas e fumo.

Eu lembro que quando era garoto tínhamos que driblar os meninos mais velhos e grandões que exigiam de nós uma espécie de pedágio, para que pudéssemos passar pela calçada ou pelo corredor da escola, pedágio este que poderia ser a nossa merenda, algum trocado, bolitas de gude ou qualquer coisa que tivéssemos na mão. Não era oferecido nenhum benefício em troca, apenas a segurança de que não iríamos apanhar. Desde aquela época já se sabia que cobrar pedágio em caminhos já prontos e construídos é sempre melhor e mais atrativo para quem cobra.

A proposta do governo gaúcho de prorrogar o prazo das concessões em virtude de evitar uma estagnação da economia do Estado, além da preocupação com a segurança do trânsito é louvável. Apenas é preciso dizer que ela é ilegal, pois fere a Lei de Licitações, não teve tempo hábil para um grande debate técnico e financeiro e, não faz muito tempo, o Legislativo estava às voltas com uma CPI dos pedágios que apontou uma série de pontos obscuros e uma lista de inevitáveis alterações e melhorias, bem como a constatação de que as planilhas de custo e de lucro não estavam a contento para que se pudesse emitir um juízo com maior convicção.

Não posso deixar de lembrar que é visível nas rodovias “pedagiadas” uma melhor qualidade na infra-estrutura, no atendimento, na sinalização (esta nas rodovias do governo não são nada visíveis) mas também é visível que a frota brasileira cresce exponencialmente e por conseqüência a arrecadação dos pedágios. Além dos pedágios brasileiros estarem entre os mais caros do mundo, uma nova licitação pode trazer menores taxas, uma vez que os contratos precisam ser revistos, pois quase duas décadas se passaram e a tecnologia, normalmente, consegue baratear os custos.
A atratividade de empresas para esta exploração está baseada num lucro astronômico, mas é o interesse público que está em jogo. A concessão pública deve servir ao desenvolvimento do país. Mesmo quem nunca utiliza os pedágios acaba pagando por eles, pois todas as mercadorias e serviços são transportados e passam por rodovias e por pedágios.

Aqui no Rio Grande Do Sul, pelo que se lê a arrecadação é de trezentos milhões por ano (1850 km a R$145.000,00/km) e a Governadora exige, para a prorrogação de mais quinze anos, um bilhão e trezentos milhões em investimentos. Este investimento exigido das empresas é possível ser recuperado em quatro anos, tendo mais onze anos de lucratividade total. Além do mais, nada impede que as empresas não cumpram as metas de investimentos combinadas ou diluam estes investimentos dentro dos quinze anos que têm pela frente, praticamente não sentindo nenhum desconforto com a contrapartida.

Fazendo uma analogia, parece que a Governadora está propondo ao lobo cuidar das galinhas por um tempo maior ainda, desde que ele se comprometa a pintar as cercas do galinheiro. Que proposta difícil de aceitar! Eu se fosse o lobo, não só aceitaria a proposta como ainda me ofereceria como voluntário para cuidar também das ovelhas. Vai que ela aceita!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O BRASIL EMERGE NA ENCHENTE



(Sérgio Lisboa)
O país acordou estarrecido com a catástrofe que se abateu em Santa Catarina, um dos Estados mais belos do Brasil e certamente um dos pedaços de terra mais exuberantes do mundo.
O que se viu em função deste grave problema foi todo o tipo de atitudes, desde a mais pura solidariedade até a mais vil rapinagem que deixariam anjos constrangidos e corvos e urubus enrubescidos. Viu-se tristeza, carinho; viu-se força e superação.

Uma tragédia destas dimensões faz aflorar tudo de bom que cada indivíduo possui e por conseqüência, por serem feitos de indivíduos, faz aflorar também tudo de bom que o Estado e a iniciativa privada possuem.
Viu-se a Polícia Militar abordando indivíduos suspeitos de saques a residências abandonadas, com uma gana e com um respaldo popular jamais sentidos e trocados entre população e polícia. Grandes empresas responsabilizando-se por donativos e suplicando pelas doações. O Ministério Público fazendo parcerias e fiscalizando o bom andamento das doações. Crianças doando o pouco que possuem e ajudando a carregar os mantimentos.

Alguém já disse e durante todo o tempo se repetiu que o Brasil é um país abençoado por não ter terremotos, enchentes, maremotos, ataques terroristas e invasões de exércitos estrangeiros (e precisa?).
Os Estados Unidos a maior força nacional do mundo em todos os sentidos materiais, sofre o tempo todo com a inclemência da natureza, seja com nevascas, furacões, maremotos ou com constantes preocupações com ataques terroristas. Todos estes problemas ao invés de debilitar os EUA, criam nele uma solidariedade e um sentido de unidade pátrias raramente vista em outros lugares.

Ficou com mais esta tragédia nacional, a lição de que todos nós não podemos esquecer, como um capítulo de auto-ajuda, que somos muito solidários, que somos muito unidos, que somos muito generosos, que somos gente boa.
A união deste país em torno de uma tragédia nacional, sem parar para pensar, sem orquestramentos, sem partidarismos, sem terceiras intenções, fez com que nós voltássemos a acreditar que o Brasil é sim, o país do jeitinho, mas do jeitinho carinhoso de ser solidário, do jeitinho doce de ser amigo, do jeitinho forte de ser protetor, do jeitinho sério de ser justo, do jeitinho constrangedor de dizer que os canalhas precisam mudar de ramo. Falta apenas obrigá-los a morar nas encostas dos morros.

domingo, 16 de novembro de 2008

A VOLTA DOS MILITARES

(Sérgio Lisboa)
Houve um tempo em que o Brasil foi comandado. Os militares através de um golpe em 1964 assumiram o poder e impunham um governo com mãos de ferro, conhecido como “Ditadura”.
As opiniões contrárias ao regime eram sufocadas de todas as formas possíveis, inclusive com a própria vida. Por causa disto que naquela época, quando perguntado às pessoas como elas estavam, a resposta era sempre a mesma: “Não dá para reclamar”! Literalmente, ninguém podia reclamar.
Algumas pessoas tentavam de muitas maneiras atentar contra o regime e até mesmo derrubá-lo, organizando grupos revolucionários com táticas de guerrilhas, realizando seqüestros, assaltos a bancos, etc. Para enfrentar os militares eram usadas táticas militares. Até hoje isto se reflete, pois quem se engaja politicamente em uma causa acaba se tornando militante. Talvez as coisas mudem quando nós começarmos a civilizar ao invés de militar. Sei lá!

Um desses revolucionários acabou preso naquele período e sofreu as piores torturas imagináveis trazendo seqüelas e traumas até hoje, que de alguma forma contribuiu para que não conseguisse se firmar profissionalmente, passando por períodos dos mais difíceis, enfrentando o alcoolismo, desemprego, depressão e uma série de dificuldades que se avolumam em casos como este.
De todas as formas de se sobreviver, tanto aqui como em quase todo o mundo, sobra para algumas pessoas o famoso biscate ou bico, ou um emprego temporário qualquer.
Após fazer todo tipo de trabalho para sustentar a sua família, aceitou trabalhar no momento como motorista de táxi. Uma profissão difícil, perigosa, cansativa, mas muito digna.

Um desses dias comuns em que estava esperando passageiros para mais uma corrida, surge em seu táxi, dois passageiros. Não eram dois passageiros comuns e sim dois jovens militares, facilmente reconhecidos pelo corte de cabelo e pela postura, além da experiência adquirida por quem conviveu e sobreviveu a eles.
Naquele momento passou pela cabeça de forma vertiginosa tudo aquilo que ele sofreu com os militares, com a ditadura, com toda aquela luta que ele sempre julgou que estava fazendo como um herói incompreendido e que apenas pretendia ajudar o país.
Os tempos são outros. Estavam ali diante dele, como passageiros, como clientes, quem iria contribuir para o seu sustento e de sua família. Dois jovens militares que não viveram aqueles tempos sombrios e não podem ser responsabilizados pelos erros e excessos de seus antecessores. Passou até a ter um carinho por aqueles meninos.
A sua cabeça girava a mil, voando em pensamentos que não teve sequer tempo de trocar uma só palavra com seus passageiros chegando rapidamente ao destino dos jovens. Na hora de desembarcar e acertar a corrida deu um sorriso angelical para os jovens militares esperando o pagamento e até uma palavra amiga ou um sorriso de retribuição, mas as palavras dos jovens foram secas, firmes e fortes, revivendo seus piores pesadelos: ”Passa a grana que isto é um assalto!"
(Baseado em um fato real)

sábado, 15 de novembro de 2008

POSSO PAGAR A CONTA?

(Sérgio Lisboa)
No dia 24 de outubro, uma pessoa resolveu encerrar a sua conta bancária e fazer um acerto com um saldo devedor que tinha ficado. O Banco respondeu que ela não podia encerrar a sua conta. Primeiro tinha que pagar o que devia para somente após encerrá-la. Enquanto isso os juros iriam se avolumar.

O dia 24 de outubro já está definitivamente marcado para a humanidade como um dia cataclísmico, pois foi exatamente em vinte e quatro de outubro de 1929, há setenta e nove anos, que o mundo sofreu a maior crise econômica de sua história. Uma característica marcante que contribuiu tanto para a crise de 1929 quanto a de 2008 foi, entre tantos, a desigualdade na distribuição de renda, levando os detentores do capital à especulação financeira, além do liberalismo econômico tão apregoado pelos capitalistas como a única forma de sucesso econômico, plenitude de vida e modernidade. Não custa lembrar que o mundo capitalista só recuperou-se mesmo da crise de 1929, com a II Guerra Mundial. Espero que eles na leiam este artigo.

Aqui no Brasil, o Ministro da Fazenda Guido Mantega, por sua vez, está preocupado com a inércia dos países ricos com relação à crise e espera ansioso por uma definição de regras claras ou de uma intervenção divina dos poderosos para que, segundo ele, esta recessão não se transforme em depressão. Alguém precisa dizer para ele que recessão é o que enfrentamos diariamente enquanto depressão é o que sentimos permanentemente.
Enquanto os outros países estão enxugando suas casas após o Tsunami, o Brasil vai visitar os vizinhos para saber o que deve fazer, enquanto seus próprios móveis estão boiando pela sala de estar.

O Brasil é um dos poucos países que não forneceu nenhum socorro monetário para a classe média, diferente de outros países como os próprios EUA e a China. Estes últimos, além de socorrerem seus bancos forneceram um incremento para o consumo da população. O Brasil fez só a parte fácil da lição de casa: deu socorro apenas aos bancos.

Tanto em 1929 como agora, somos nós, através dos poderes públicos que manteremos de pé bancos quebrados, com a perda de milhares de milhões de dólares. Tudo o que pedimos é que de vez em quando os bancos nos deixem encerrar a nossa própria conta.

OBAMA BIN LADEN?



(Sérgio Lisboa)
Falar mal do Presidente americano George Bush é um passatempo mundial, quiçá interplanetário. Isso mesmo! Não é de se duvidar que essas sondas espaciais já não tenham achado pichações em rochas nas partes escuras de outros planetas com a inscrição “Fora Bush”, obviamente negadas e deletadas pelo governo americano.
Eu nunca vi e acho que ninguém nunca viu alguém em uma mesa de bar ou numa roda de amigos defendendo o Presidente Bush. Quem se atrever a fazer isto deve estar de mal com a vida ou quer chamar a atenção das pessoas com uma irreverência quase doentia usando do contraditório só pelo prazer de ser diferente.

Já Barack Obama é tudo de bom! A reencarnação de Jesus Cristo para alguns; o próprio criador disfarçado para outros.
Assim como a esmagadora maioria das pessoas, não aprovo as coisas que Bush faz nem tenho procuração para defendê-lo e não estou nem aí para ele, até porque não é nem parente da minha diarista.
A única coisa que me chamou a atenção desde o início da cobertura das eleições presidenciais americanas foi a semelhança do nome do candidato democrata Barack Hussein Obama com o inimigo número um dos Estados Unidos, Osama Bin Laden, sem falar que seu nome do meio é Hussein, mesmo nome de Saddan, que estava em primeiro lugar no ranking dos inimigos dos EUA, recentemente.
A semelhança entre as nomenclaturas é que me faz pensar, bem como a proximidade dele com as raízes dos inimigos americanos. Sem falar que Obama tem como seu vice-presidente alguém que se chama Joseph Biden.

Barack Hussein Obama é filho de um queniano e viveu grande parte de sua infância na Indonésia, maior país islâmico do planeta. Inclusive no início do ano a rede de tevê NBC ao trazer uma matéria sobre Barack Obama ostentava, ao fundo, a foto do Osama Bin Laden. Foi um corre-corre dos diabos e pedidos de desculpas no ar dos apresentadores do noticiário.
Para um país forte como os EUA, sendo a maior vitrine política e econômica mundial, que sempre levou a sério superstições, ter esses pesadelos como coincidências deve ser motivo de preocupação. Para os eleitores de Barack Obama que foram em sua maioria imigrantes, desfavorecidos e excluídos, até o próprio Osama Bin Laden talvez tivesse sido eleito, ainda mais se a disputa fosse com um candidato apoiado por Bush. Aliás, Bin Laden só não concorreu à presidência americana porque seu passaporte não ficou pronto a tempo e o antigo ele tinha deixado dentro de um carro-bomba, recentemente.

Pensando bem o nome do cara não tem nada a ver com a sua ideologia ou com a sua postura como homem público e cidadão e o seu nome pode ser até Mickey Mouse ou Mexilhão da Silva, desde que ele não seja manipulado como um boneco da Disney ou tenha um cérebro igual à de um molusco. O que vale mesmo é a sua boa atuação como governante.

Aqui no Brasil, o país da alegria e da irreverência, o nome do presidente não importa muito. O que importa para nós é sua postura... no palco. Eu sugiro até um nome para o próximo presidente do Brasil: Frank Sinatra da Silva.

domingo, 9 de novembro de 2008

COMO BOIS NO CAMPO



(Sérgio Lisboa)
A grande maioria tem a idéia de que o Governo tem que fazer tudo por nós, pensar por nós, agir por nós. O duro é aceitar que tudo isso que eles fazem é o melhor que podem e como se fossemos nós quem estivesse fazendo. Talvez seja essa a melhor explicação para as atitudes daqueles que defendem o Governo, de qualquer partido e em qualquer época, com unhas e dentes: não são capazes de ter suas próprias idéias e se vangloriam com a menor decisão do Governo como se fosse a sua própria melhor decisão.
A única iniciativa que nos permitimos é dar o aval para legitimar quem dos deles escolher para agir e pensar por nós. Sim, pois as opções de escolha de lideranças políticas principalmente as de maior relevância, com posições mais estratégicas, já vem com o cardápio pronto, bastando-nos apenas indicar quais dos pratos nos impõem e somente estes nós podemos escolher.

Qual liberdade que nos resta se as coisas são assim? Como bois no campo, ficamos ali, à mercê de quem nos aprisiona e nos deixa comer grama, como se a mais bondosa entidade estivesse nos cuidando e protegendo e que o nosso fim fosse o de apenas pastar protegidos de predadores, tendo ainda, de brinde, uma bela convivência em grupo com outros iguais, numa interação social quase pacífica, todos tão “realizados” quanto nós. Como bois nos impõem uma dieta saudável (comer grama), temos uma vida em sociedade (vivemos em manadas), moramos em um condomínio fechado (nosso campo tem cerca e porteira) e nunca nos revelam que o nosso futuro é o abate.

As nossas mazelas estão diretamente relacionadas a este hábito hereditário de depender para tudo do Governo, transferindo-lhe poderes civis, políticos, de decidirem os nossos destinos e usurparem as nossas individualidades e ainda atribuindo-lhes poderes divinos. Entregamos as nossas vidas para o Governo e acreditamos piamente que ele está sempre tentando fazer o melhor para nós, além de nos dar pasto durante toda a vida, um lugar para vivermos, proteção à nossa integridade, tratamento de saúde quando estivemos doentes, etc., e a única coisa que ele nos pede é que no final entremos na fila para retribuirmos com o nosso pescoço tanta bondade.
As pequenas cobranças que ele faz ao longo de nossa vida através de impostos sobre a alfafa, ração, vacinas, aluguel do campo, cercas e arames, ferro de marcar (produtos siderúrgicos estão caríssimos), são apenas ajustes necessários para a manutenção da máquina de abate.

Eu estou com o Governo e não dou nem um pio, digo, um mugido e Deus nos livre do roubo de gado.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

JURAMENTO DE HIPÓCRITAS

Se você falar ou comentar sobre uma preferência sexual diferente da maioria, ser muito favorável ao armamento da população, defender o direito de se drogar licitamente, demonstrar uma posição um pouco mais machista, será execrado no ato. No entanto as letras de Funk fazem uma apologia às drogas, ao armamento, ao sexo desmedido, à homofobia, à falta de respeito à mulher e tem espaço privilegiado na grande mídia, recebendo, seus representantes, tratamento de verdadeiros reis.

Se você defender ou até mesmo resolver pôr em prática, a invasão de bancos que estão visivelmente lesando a população, com lucros vergonhosos, remunerando seu investimento com um décimo do que você paga pelo investimento do banco, será preso no ato e talvez nunca mais saia da prisão.

No entanto o Movimento dos Sem-Terra, invade o que lhes dá na telha, destroem tudo, num capricho tenebroso de verdadeiros ditadores insanos, em nome de uma luta justa e corajosa para recompôr a igualdade perdida.

Se você atacar, literalmente, um cidadão que está envolvido em um desvio de verbas incalculáveis da Previdência Social, bem no momento em que você recebe a notícia que será refeito o cálculo de sua aposentadoria, diminuindo-a pra menos da metade de tudo o que você contribuiu a vida inteira, você terá que usar o pouco que sobrou dessa aposentadoria aviltante para indenizar o pobre do cidadão que só desviou essa verba fantástica porque foi envolvido “inocentemente” em uma teia de conspiração e corrupção.

Se você fizer qualquer coisa que seja honesta, com princípios éticos, morais, fraternos, humanos, com boas intenções, sem maldades, no afã de proporcionar uma ajuda a quem necessita, terá sua vida investigada como uma autopsia, para tentar descobrir o que se esconde atrás dessa figura ímpar que tenta mascarar uma vida de maldades, de maracutaias, de desvios, de negociatas, de contravenções, de crimes e de desajustes sociais, com “trabalhecos” sociais, que duvido não sejam financiados de alguma forma ilícita pelo governo.

É preciso ter conivência criminosa e aceitar pacificamente o mal-intencionado para ser considerado indivíduo-padrão.

É preciso deixar de ser bom para não chamar a atenção.

É preciso não mais se indignar com as injustiças para ter uma vida normal.

É preciso calar diante de todos e se anestesiar diante de tudo para finalmente poder dizer: “graças a Deus estou inserido no processo social”.

Sérgio Lisboa.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

FORMADORES DE OPINIÃO



Muitos cronistas, escritores e jornalistas se orgulham muito de serem “formadores de opinião”.


Hitler foi um dos maiores formadores de opinião que o mundo conheceu. A Xuxa e a Gisele Bünchen também o são atualmente.


O Faustão, o Luciano Huck, o Gugu e o Silvio Santos também são grandes formadores de opinião.


O grupo Rebelde também.


O Datena também!!!


A Derci Gonçalves era uma bela formadora de opinião. Inclusive ela era capaz de fazer palestras em empresas, resgatando no empresário o foco principal de sua atividade-fim que é o lucro. Para ilustrar melhor essa teoria, quando perguntada sobre qual a colocação que a Escola de Samba em que ela desfilou com os seios à mostra tirou naquele ano, ela simplesmente fuzilou: Sei lá! Que se fod...! Só queria saber do meu cachê!


Não é lindo?


O açougueiro da esquina de casa também, pois sempre faz com que eu leve um músculo de terceira, dizendo que é mais macio que filé. Faz com que eu mude de opinião acreditando nele e ainda diz que meu problema não é a dureza da carne e sim um problema odontológico, de dentição fraca por “farta” de vitaminas.


O cara é fantástico!



Formadores de opinião!


Chegamos a um ponto em que o que é ruim demais, o que não nos traz nenhum proveito, deturpa o nosso conhecimento, a nossa personalidade, acaba de vez com a nossa individualidade, nos induz a pensar de forma totalmente alienante, se apresentando como o grande pensador do século e, quando resolvemos duvidar de suas teorias, acabam citando estelionatários de marketing profissional que migram como aves de rapina, das grandes religiões universais para as grandes teorias econômicas mundiais, tornando realidade o tele-transporte, a serviço de uma materialização de moléculas de DNA, classe “171”.



Se for inevitável ouvir um formador de opinião, eu prefiro ouvir atentamente a um vendedor-ambulante de uma praça central.


Pelo menos com esses ainda dá para pechinchar.


Sérgio Lisboa.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

OPERAÇÃO PAPEL HIGIÊNICO

Por uma daquelas circunstâncias do destino, que fizeram o mega-enrolado Daniel Dantas ter o mesmo nome do ator, outros indiciados no processo tiveram seus homônimos em outras profissões, inclusive de escritores, ou a pior classe deles: a de cronistas.

A PF entrou na casa do cronista e apreendeu seu HD, onde tinha inícios de crônicas, daquelas feitas durante uma sessão de vinhos argentinos de dez reais.

Inclusive ele tentou protestar contra os agentes, alegando que eles deveriam investigar essa conspiração argentina contra nós, derramando no mercado, vinhos com alguma propriedade alucinógena que, de alguma forma, removia as nossas cataratas e nos fazia enxergar o que realmente estava acontecendo no país. Não ajudou muito a sua situação inicial.

Esses inícios de crônicas (confundidos com indícios telefônicos) só não foram “deletados” porque ele se embebedou tanto que a prioridade era limpar o vômito do teclado, no dia seguinte.

São inícios e, ao mesmo tempo, restos de textos, que ele fez logo após discutir com a sua mulher sobre a importância de uma reunião de Tupperware em casa, em contraponto às iniciativas ambientais mundiais contra o uso de plástico no meio-ambiente.

Com o argumento de sua mulher de que o pau de macarrão dela ainda era de madeira, mostrando toda a sua preocupação com o meio-ambiente, ele acabou cedendo, até porque ela contribuía e muito, para a preservação da fauna, com a criação de novos galos, mesmo que fossem na testa dele. A coisa só se agravou quando ele quis saber se aquela madeira do pau de macarrão era madeira legalizada.

Já na Polícia Federal, o mais engraçado foi o cronista ter que dar o seu depoimento explicando o que ele queria dizer com aquele início de texto em que compara a Madre Teresa com a inflação do país.

Não convenceu muito ele explicar que ambos só ajudaram os pobres quando estiveram por baixo. Pelo menos, um cara do Pelotão de Choque (parecia ser do Pelotão de Choque) não sentiu uma energia positiva na explicação.

Ou aquela em que ele faz um discurso inflamado contra a liberdade de ex-pressão, ou seja, contra o reaproveitamento de torturadores da ditadura, como roteiristas de programas de auditório.

Não foi convincente quando, tentando remendar, disse que as dançarinas do programa são perfeitas para programas.

Hoje em dia é preciso ter cuidado até com o nosso nome, pois sempre vai ter alguém investigado com um nome idêntico, que fará com que acabemos explicando tudo o que fizemos nos últimos anos, inclusive o fato de aumentarmos o consumo de papel higiênico.

A Receita Federal pode provar que o aumento do consumo desse material de limpeza não condiz com a nossa renda declarada.

Sérgio Lisboa.

terça-feira, 15 de julho de 2008

UM BOM PARTIDO NO SUPERMERCADO



Eu li numa dessas revistas especializadas (sempre tem uma revista especializada para ensinar a ter as coisas que ninguém nunca consegue e só você vai conseguir) que para se achar um bom partido, tem lugares próprios e específicos, provados cientificamente.


O bom partido que eu estou me referindo aqui, é um bom namorado, um bom marido e não um bom partido político, até porque esse termo já é um termo impossível, grafado com “vício de origem”.



Uma das dicas da revista é procurar numa seção de vinhos de um bom supermercado, não em um “atacadão”, pois lá só vai encontrar pinguço pegando vinho de garrafão, um tinto e um branco, para misturar em casa e fazer um rosé “pra muié”.



Outro lugar aconselhado são as seções de livros, pois parte-se do princípio de que quem se preocupa com a leitura é uma pessoa culta, fina e que tem muito para conversar e ensinar. Só é preciso ver qual corredor de livros essa pessoa está, pois se for alguém interessado em “Jack, O Estripador” ou “ A Biografia De Xuxa”, ou até mesmo as crônicas de “Bruna Surfistinha”, é melhor sair de fininho e ir em outro tipo de estabelecimento.



Se você quer achar alguém com dinheiro no supermercado, por exemplo, é só ficar junto à peixaria, mas colado aos camarões e salmões. Não desgruda deles. Quem chegar e comprar um desses pode ter certeza que algum dinheiro a mais essa pessoa tem. Mas observe bem cada movimento da presa, pois ou você passa o resto da vida comendo do bom e do melhor ou vai ter que se virar na zona para sustentar um pobretão metido a rico.


Se nunca aparecer ninguém, o que é mais provável, você corre o risco de, assim como tem a “Maria Gasolina” e a “Maria Chuteira”, ser conhecida por um termo mais nobre, como a “Maria Salmão”. É bem mais chique!


Apesar de todas essas dicas, eu me atrevo a sugerir para quem quer conseguir um bom partido, e que esse seja simples, carinhoso, fiel e firme em suas convicções, além de ser um amante à moda antiga, fique de prontidão na seção de farináceos, e agarre o primeiro homem que botar a mão em uma caixa de Maizena.


Só tem um problema: ele pode ser um debilóide que adora mingau e mora com a mamãe e leva para ela fazer para ele ou deve ser casado e com filho.


Ninguém disse que seria fácil.


Sérgio Lisboa.






sexta-feira, 11 de julho de 2008

SORRISO DE CRIANÇA



Hoje eu fui ao shopping levar a minha sobrinha naqueles brinquedos de bolinhas e labirintos, de escorregadores e tubulações.


Eu achei bem didático esse brinquedo, uma vez que ele antevê situações que as crianças enfrentarão no futuro, com muitos labirintos, escorregões e entradas pelo cano.



Enquanto ela se divertia por lá, eu fiquei do lado de fora, numa verdadeira alegoria da própria vida: as crianças e os jovens fechados em seu mundo de fantasia e nós, os adultos, do lado de fora, sentindo a brisa fria da realidade soprando em nossos rostos, livres, preocupados e solitários, quando na verdade, queríamos estar presos e seguros a um grupo, protegidos nem que fosse por um olhar vigilante que nunca nos perdesse de vista.



Sentei num café, onde havia várias mesas, praticamente ocupadas e, por incrível que pareça, um sofá, com uma mesa, completamente vazios.


Em cima da mesa uma revista de circulação nacional, cujo título era: ”A vida começa aos 50”.


O que me fez pensar que eu devia passar a maior parte de minha vida sem me preocupar com nada, para só após os 50, pensar em viver.


Sentei sozinho naquele sofá, com uma mesa na frente só para mim.



Enquanto sorvia o meu café, que veio com um copinho de água bem pequeno, capaz de matar a sede de um beija-flor, se não for verão e um pau de canela para ser usado como colher e mexer o café, além de uma bolinha doce, que mais parecia um haxixe, que não me atrevi a tocar, deixando-a como enfeite do café.



Olhei para aquelas atendentes tão jovens, com um futuro tão incerto, sendo monitoradas por um gerente tão jovem quanto elas, só que aprendera a fazer cara de sério para impor um respeito à sua função, mas que naquele momento se juntou a elas numa cumplicidade nunca vista, como que a dizer que estavam todos no mesmo barco.


Pensei em escrever algo sobre eles ou sobre aqueles tipos que passavam por todos os lados.



Aquele sofá só para mim, aquele café, aquela infinidade de personagens e aquela paz, tudo parecia um cenário montado, ideal para uma crônica, bastando apenas escolher o tema.



Mas ao olhar para o lado havia uma menina, que duvido tivesse mais do que quinze anos e um carrinho de bebê com um bebê-menino, certamente com menos de um ano de vida.


E aquele bebê me olhava e sorria, com um sorriso tão forte e tão espontâneo, que eu não vi mais nada ao meu redor.


Ninguém mais viu a nossa troca de olhares e de sorrisos, só nós dois. Eu e o bebê. Nem a menina que o acompanhava notou a nossa interação.



Então, inexplicavelmente, comecei a derramar lágrimas, não por tristeza, depressão ou algo assim. Eu tinha paz, eu tinha conforto e tinha o sorriso de uma criança desconhecida. Naquele momento eu tinha tudo.


Não sei ao certo onde a vida começa, se é aos 20, 40, 50 ou 90.


Só sei que ela passa, magicamente, pelo aval sincero de um sorriso de criança.


Sérgio Lisboa.



terça-feira, 8 de julho de 2008

CANDIDATOS

O repórter foi entrevistar uma prostituta candidata à reeleição deste ano, que começou muito cedo a sua profissão não muito recomendável (esta expressão serve para quaisquer das duas profissões dela) por isso não teve a mesma sorte de muitos de nós que é não ganhar dinheiro, digo, de ter estudado.

(Repórter) Soube que a senhora saiu num jornal de grande repercussão.

(Candidata) Eu recebi um elogio de um jornal pela minha “autuação” no horário eleitoral gratuito.

(Repórter) Imagino! Esse jornal devia ser “autuado”.

(Candidata) O jornal disse que nos horários eleitorais gratuitos a minha “autuação” foi considerada tão boa quanto às falas de uma atriz pornô.

Eu estou me referindo às falas! Não estou me referindo às outras “autuações” das atrizes pornô, que daí, moléstia a parte, eu daria melhor!

(Repórter) Tenho certeza! Você não tem projetos?

(Candidata) Sim, projeto de aumentar a minha casa e fazer mais um puxadinho.

(Repórter) Não tem programa?

(Candidata) Tenho, é vinte real. Boquete até faço por cinquinho. Desculpa! Foi força do hábito.

(Repórter) E plataforma? É modelo Anabela de marcas paraguaias. Prefiro essas porque ninguém consegue falsificá-las. As outras eu não gosto, pois apertam meus calos. Sabe como é: político que se presta tem muito calo para pisar neles. Sem falar em joanete de usar sapato apertado e dançar em quermesse de pobre.

(Repórter) Algum projeto assistencial, tipo bolsa-família?

(Candidata)Bolsas só Luis Vulcão.

(Repórter) Não seria Louis Vuitton?

(Candidata) Por acaso você usa bolsa? Você deve ser desses Xerox que cortam dos dois lados.

(Repórter) Não. Eu acho que sou um Gillette e copio dos dois lados.

(Candidata) O quê?!!

(Repórter) Nada não! Não te dói a consciência?

(Candidata) O quê que é isso?!!

(Repórter) Qual o teu projeto para a proteção à criança?

(Candidata) A melhor proteção da “criança” ainda é a camisinha.

(Repórter) Você está associando o termo “criança” ao órgão sexual?

(Candidata) Eu estou falando com um poliglota das cavernas? Eu utilizei um cogumelo. Já ouviu falar? São palavras de duplo sentido.

(Repórter) Não seria um cognato? Uma ambigüidade?

(Candidata) Aí você já está misturando massa corpórea com o baixo ventre, metendo o umbigo no meio.

(Repórter) Apesar de tanto absurdo que eu ouvi, até que enfim uma coisa mais saudável e consciente, que é o uso de preservativo nas relações sexuais.

(Candidata) Relações sexuais? Para mim todas as relações são sexuais, principalmente a relação de nós políticos com o povo.

(Repórter) Qual a mensagem que a senhora deixa para o seu eleitor?

(Candidata) Meus queridos! Eleição e meretrício não tem muita diferença: você é obrigado a escolher os candidatos que estão ali na sua frente. Escolhe um, dá o teu dinheiro para ele, que ele vai fazer com você o que sabe fazer de melhor.

A “sastifação” é garantida!

Sérgio Lisboa.